SOBE NÚMERO DE FAMÍLIAS ASSOLADAS
PELAS CALAMIDADES NATURAIS NA PROVÍNCIA DE MAPUTO
O número de vítimas da seca e
estiagem na província de Maputo tem vindo a aumentar, são contabilizadas,
actualmente, cerca de 5.300 famílias afectadas, o correspondente a cerca de
26.500 pessoas em situação de vulnerabilidade e carentes de ajuda urgente.
A estatística actual indica ainda
que de todas as regiões afectadas, o destaque vai para os distritos de Magude,
com um total de 6.017 pessoas carenciadas, seguido por Manhiça, com 6 mil, Namaacha, 5158, Matutuine 4.200, Moamba 3.625
e Boane com mais de 1500 pessoas.
Esta informação foi
disponibilizada hoje, durante uma visita efectuada pela primeira-dama da
república de Moçambique, Isaura Nyusi, ao distrito de Boane, com vista a
oferecer um donativo de cerca de 30 toneladas de alimentos e produtos diversos
às comunidades daquela parcela do país e se inteirar dos estragos causados por
este fenómeno calamitoso, que foi agravado pelo vendaval ocorrido há 20 de
Fevereiro passado.
O vendaval de que se fala, de
acordo com o governo local destruiu, matou e desalojou diversas famílias de
Boane de um modo só visto há cerca de 20 anos.
‘’Como resultado deste vendaval,
o distrito de Boane registou 7 óbitos, 18 feridos graves e 60 ligeiros,
perfazendo um total de 87 danos humanos. Ficaram destruídas totalmente 795
casas e outras 828 ficaram parcialmente destruídas, afectando 821 pessoas e
criando vulnerabilidade em 424 famílias’’, disse Claudina Mazalo, secretária
permanente da província de Maputo.
Mazalo acrescentou ainda que ao
nível do distrito de Boane cinco bairros foram tidos como os mais críticos,
nomeadamente, Mahanhane, Saldanha, 25 de Junho, Mahubo-10 e Marien N’guabi.
‘’Estes cinco foram os que mais
sofreram ao nível do município mas devemos recordar que os distritos de Namaacha,
particularmente nos povoados de Goba, Michangule, Mahelane e Matutuine também
foram bastante assolados’’, acrescentou a secretária.
Os estragos em Boane, ainda de
acordo com Mazalo, foram além dos danos humanos, pois, ‘’até o momento foram
perdidos 55.207 hectares de terra com culturas diversas, destacando-se o milho,
amendoim, feijões e cerca de duas mil cabeças de gado bovino, mortos em quase
todos os pontos da província com excepção da cidade da Matola’’.
Contudo, algumas medidas estão
sendo implementadas em coordenação com o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades
(INGC) como forma de minimizar os efeitos calamitosos, entre elas, a
distribuição de água nas zonas mais críticas através de camiões cisternas e
angariação de donativos por entidades públicas e privadas, com destaque para o
gabinete da primeira-dama.
Aliás, este donativo oferecido
por Nyusi, de acordo com o delegado do INGC na província de Maputo, Rocha
Novunga, a proposta inicial é de reverter 75 por cento dos produtos a favor das
comunidades de Boane e o remanescente para outros pontos da província.
‘’A proposta é canalizar 75 por
cento dos produtos para aqui em Boane, a minha proposta é nesse sentido pois
penso que há uma necessidade de se fazer distribuições significativas às
familias, oferecer produtos que eles possam usar por um tempo’’, explicou o
delegado.
Novunga aproveitou ainda para
frisar que o INGC não está parado, tem estado a disponibilizar, na medida do
possível, as comunidades a ajuda necessária para que estas normalizem suas
vidas.
‘’Foram feitas intervenções iniciais
em três bairros considerados críticos, efectuamos a distribuição de tendas às
pessoas que perderam as suas casas em consequência do vendaval, continuamos
neste processo a envidar esforços para que a vida das populações se
estabilize’’, sublinhou o delegado.
Nesta senda, a esposa do
presidente preferiu, mais do que dados, observar alguns casos de pessoas afectadas pelo vendaval e pela seca, tendo por
isso visitado três bairros daquele distrito, nomeadamente, 25 de Junho, Lumbelo
e Marien N’guabi.
No local, Nyusi observou in loco
a crítica situação das vítimas, com destaque para os idosos que, tendo perdido
tudo, não tem mais forças para a reposição dos danos causados.
Um dos exemplos a citar é Luís
Isac Novunga que, com 94 anos de idade, padece de cegueira e o único filho que
com ele mora é mudo, o que impossibilita quase que totalmente a comunicação
entre ambos. Este idoso, que já se ressentia pela seca e estiagem chegou ao
cúmulo da desgraça quando perdeu a sua humilde residência em consequência do
vendaval. Mergulhado no desespero, viu na visita da primeira-dama uma luz no
fundo do túnel, eis que desatou a rogar ajuda.
‘’Senhora primeira-dama, mãe do
povo, agradecemos a sua visita, uma visita que nos enche de conforto, perdi a
minha casa e neste momento estou a viver de arranjos, agradeço o donativo que
nos está a oferecer. Queria pedir ainda que me ajude com a casa, a minha
humilde casa’’, suplicou Novunga.
Em resposta, Isaura Nyusi, pediu,
não só a Novunga, mas a todas as vítimas das intempéries, muita coragem e
crença de que tudo vai melhorar, ‘’hoje estamos a trazer um pequeno apoio, não
basta, mas acreditamos que poderá ajudar a minimizar algumas necessidades’’.
Para Nyusi, há necessidade de
‘’convergir todas as acções de combate a fome e a pobreza, que vão desde a
produção agrícola, com destaque para culturas tolerantes, criação de animais de
pequena espécie, aquacultura, processamento e comercialização de produtos
agrícolas, acesso a rede de equipamentos sociais e segurança para as zonas
rurais’’.
Neste momento toda a região sul
do país está a mercê de uma seca severa, os campos estão secos, em consequência
do fenómeno El Ninõ, desde a primeira época agrícola de 2015 a chuva tem sido
uma raridade, os regadios, como é o caso do Limpopo, na província de Gaza,
estão a abastecer com apenas 25 por cento da sua capacidade normal, pois estão
praticamente secos.
O curioso é que, enquanto na
região sul as famílias clamam pela chuva, na região norte as cheias estão a
criar pânico e a deixar milhares de pessoas em situação de insegurança
alimentar. Dados oficiais indicam a morte de pelo menos 17 pessoas e mais de
3.500 casas destruídas.
Espera-se que, ao nível da região
norte, este seja o ultimo mês a apresentar esta drástica situação de queda
pluviométrica anormal, que chega atingir 75 milímetros em apenas 24 horas.
Jeremias Chemane (JC)
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