POBREZA MONETÁRIA NÃO PODE
DIMINUIR COM CONTÍNUA SUBIDA DO CABAZ
A contínua depreciação do
metical, aliada ao baixo nível de exportação e com o elevado índice de importação
dos produtos básicos alimentares, num País onde 80 por cento da população sobrevive
com base na agricultura para o auto-sustento sem muitas perspetivas de comercialização
do excedente, são vistos, pelas Nações Unidas, como os principais factores que
condicionam a difícil reversão do gráfico indicador da pobreza monetária em Moçambique.
O economista representante das Nações
Unidas (ONU-Wider) ao nível da Africa, Finn Tarp, defendeu, esta sexta feira,
em Maputo, no Grande Fórum de Debate, Mozefo, que em Moçambique a pobreza monetária é um dilema crónico, pois
o cabaz alimentar da população ainda não vai ao encontro daquilo que são as possibilidades de compra.
"A pobreza monetária não pode
diminuir enquanto o custo do cabaz sobe, sobem os preços mas não sobem os salários,
então, a mesma pessoa que comprava três quilos de arroz ontem, hoje compra dois
porque o preço subiu mas o seu poder de compra continua o mesmo".
Para Tarp, existem sectores que
merecem uma especial atenção quando o assunto é investimento, com destaque para
a agricultura, por ser um campo que mais do que dinheiro garante o
desenvolvimento humano.
Os níveis de pobreza no País são
pouco conhecidos e os indicadores não têm sido alterados desde 2008, ou seja,
desde essa época, até esta parte, não se elaborou nenhum estudo exaustivo que
indique realmente qual é o nível de pobreza em Moçambique. "Todos que
dizem que a pobreza aumentou ou diminuiu baseiam-se em meras observações pessoais".
"É necessário aumentar a
quantidade e a qualidade do investimento que se tem vindo a fazer no campo agrícola
pois a agricultura garante, mais do que outros aspectos, o desenvolvimento
humano e é uma forma muito viável de inclusão porque com a garantia de uma alimentação
condigna para todos pode reduzir significativamente o nível de desnutrição ainda
observados no País". Disse Tarp.
O economista lembra ainda que ao se
apostar na agricultura é necessário diversificar a produção tendo como contexto
a região onde se vai produzir.
É certo que em Moçambique se está
a investir, mas o investimento, de acordo com Tarp, ainda não está a conseguir
agregar valor a economia do País, pois, não tem estado a gerar consideráveis postos
de trabalho.
"Há muitos investimentos,
mas criam poucos empregos, não ajudam na criação de mais postos de trabalho e
isso não ajuda na inclusão. Muitas vezes isso acontece porque as empresas
chegam no País com a sua massa laboral quase que completamente composta",
explicou.
Contudo, Tarp sublinha que os
passos dados pelo governo para reverter o cenário são significativos e devem
ser incentivados, pois, o país está na lista das dez economias mais crescentes ao
nível mundial, com cerca de sete por cento de crescimento anual, de acordo com
os dados do Banco mundial.
"Não é altura de concluir
que nada foi feito, é altura de incentivar a criação de novas propostas e
parabenizar o governo pelo caminho andado, pois, vemos um País cada vez mais
forte e com altas perspetivas de desenvolvimento.
O Grande Fórum Mozefo é uma
plataforma de debate criada pelo grupo de media 'Soico', que juntou, durante três
dias, de dois a quatro do corrente mês, mais de 1.000 participantes, entre eles
antigos e actuais dirigentes de diferentes instituições estatais e privadas, fazedores
da arte e académicos nacionais e estrangeiros.
Jeremias Chemane (JC)
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