Entrevista
REAL ESTÁGIO DAS CONTAS DA MCEL
Por Jeremias Chemane (JC)
Desde o passado mês de Agosto que algumas matérias ligadas
a gestão e condição económica da Mcel, empresa moçambicana de telefonia móvel,
tem vindo a ser veiculadas por diferentes órgãos de informação operantes no país,
algumas dessas informações, Segundo o Director Executivo da Mcel, António Saize,
são um tanto quanto "sensacionalistas" nas matérias que divulgam no
tocante à empresa.
Esta tendência verificou-se com mais destaque depois da visita, há 17 de
Agosto, do actual ministro dos transportes e comunicações, Carlos Mesquita, que
teria, na altura, afirmado que a empresa precisava melhorar a sua condição económica
e de imposição no mercado. Contudo, um facto se sobrepõem sem abertura para objecções,
A Mcel está de facto a observar um período de crise e sobre isso, Saize decidiu
quebrar o sigilo e conceder a AIM uma exclusiva entrevista versando sobre a
real situação da empresa.
O director aproveita, igualmente,
para falar da "greve" que teria ocorrido no passado mês de Setembro movida
pelos operadores da linha do cliente, alegadamente por questões de desconto
exacerbado dos seus salários. Segue a entrevista.
AIM: Como está a saúde do capital
interno da Mcel?
António Saize (A.S): Existem na empresa desafios enormes, que
requerem um ritmo de investimentos capazes de ombrear com o desenvolvimento
tecnológico. Há uma tendência, ao nível das telecomunicações, de crescimento na
utilização de serviços de dados, quer ao nível das empresas, quer das pessoas
individualmente. E é preciso que, nesta perspectiva, a empresa esteja
tecnologicamente equipada e preparada para prestar este tipo de serviços, com
qualidade e com toda a celeridade possível.
Os desafios que a Mcel enfrenta, nas actuais circunstâncias, ultrapassam,
assim, a simples gestão da empresa. Já nos referimos à escassez de recursos,
para investimentos e os accionistas da Mcel ainda estão a trabalhar para a
obtenção de recursos, para financiar o investimento requerido. O recurso à
Banca comercial, na situação actual da mcel, conhece limitações objectivas.
Continuamos a ver com rigor aquilo que são os custos operacionais da
empresa, aquilo que são estruturas e elementos de custo em toda a sua cadeia,
por forma a garantir a operação normal. Estamos a apostar mais na inovação, na
adaptação às novas tecnologias e criar ainda mais condições de motivação aos
nossos recursos humanos, dando continuidade à formação de quadros.
AIM:Qual é o
investimento necessário para a reversão do actual cenário?
A.S:O investimento necessário em termos quantitativos
varia. Porém, o objectivo é permitir que a empresa acompanhe o desenvolvimento
tecnológico que se impõe nesta indústria.
AIM:Como
observa a questão da concorrência, na perspectiva de lealdade?
A.S:A concorrência é sempre de salutar e trás dinâmica
em qualquer indústria, e esta nossa não é nenhuma excepção. Porém, as regras
devem ser aplicadas de uma forma igual e uniforme para salvaguardar o sector. Desde
há aproximadamente dois anos, os operadores de telefonia móvel no País estão
numa guerra de preços, tornando as tarifas predatórias, de acordo com um estudo
independente feito pelo regulador, o que não é de salutar para toda a nossa indústria.
O impacto das tarifas predatórias acima referidas, é diferente nas empresas
concorrentes da Mcel por se trataremde multinacionais que se beneficiam de
economia de escala dos grupos a que pertencem.
AIM: Acha que,
de algum modo, a concorrência está por detrás do enfraquecimento ao nível de
lucros na empresa?
A.S: Houve todo um conjunto de factores
conjunturais que levaram a Mcel à situação em que está hoje. Não restam dúvidas
que a guerra de preços, que tornou as tarifas predatórias, a que nos referimos
anteriormente, tem estado a ter um impacto nocivo. Mas é função, quer da gestão
quer dos accionistas, assim como a regulação do sector, estarem atentos a estes
elementos e poderem agir, em devido tempo.
AIM: Como
está a ser gerida a comunicação interna neste período de enfraquecimento económico
na Mcel?
A.S: A comunicação interna é um dos elementos
basilares que nunca descurámos. Temos vindo, sempre, a veicular informação ao
nível dos trabalhadores, em todo o País, de modo a que todos acompanhem, a par
e passo, os desenvolvimentos e constrangimentos da empresa para dar o seu
contributo.
AIM: O que
motivou a greve ocorrida recentemente, e quais são os sectores envolvidos
(sabe-se que o sector de atendimento ao cliente é um deles)?.
A.S: Na verdade, não houve greve na Mcel. As empresas KPMG e APTUS prestam serviços à Mcel
e são responsáveis pela contratação do pessoal que trabalha na Linha do Cliente
da nossa empresa. Os colaboradores em questão protestaram contra a situação
salarial junto das suas entidades patronais. Trata-se de um assunto que já foi solucionado,
com apoio da Comissão de Mediação e Arbitragem Laboral (COMAL), segundo
informação que foi facultada pelas empresas visadas. Apesar de tudo, não se
registou nenhuma paralisação dos trabalhos na Linha do Cliente.
AIM: Alguns
órgãos de informação difundiram a informação que dá conta de que os
funcionários da Mcel, subcontratados pela KPMG, têm estado agastados com a sua
percentagem salarial, ou seja, do total que deveriam auferir, apenas 25 por
cento lhes é direccionado, sendo que o remanescente quem recebe é a KPMG, confirma
esta informação? Se sim, qual é a justificativa para tal procedimento?
A.S: A Mcel não é responsável por situações
contratuais entre o patronato das empresas que prestam serviços à operadora e
seus respectivos trabalhadores. Nós, como Mcel, temos contratos com as
empresas, a quem terceirizámos determinados serviços, e as empresas
estabelecem, por sua vez, contratos com os seus trabalhadores. Mas é evidente
que são assuntos que nos preocupam, na medida que tem impacto na qualidade de
serviço prestado e nós temos acompanhado as negociações.