Vários são os dias que me vejo pensando no que
poderia ser a escolha certa, aquela que garante a felicidade e o
bem-estar, por isso, ao longo do meu pequeno trajecto de vida, que embora curto
já me criou oportunidades para muitas experiências – boas e más, pervertidas e
minguadas. Contudo sinto sempre que ainda tenho muito a percorrer nessa longa calceta
da vida.
Dos caminhos que optei, ou que tenho optado para
direccionar a minha humilde existência, submeti-me em várias situações de
embaraço mas sem querer ser ‘’canilista’’,
ainda gosto das coisas que faço, porque assim, sempre me sinto capaz de
responder a demanda das minhas responsabilidades pessoais.
O
quê poderia ser tal demanda? Bem, não sei dizer, apenas achei essa palavra
bonita o suficiente para estar no meu ‘’escrevido’’ então melhor não me
perguntar o que significa, faça o seguinte: investigue e depois escreva o
significado num papel e lance-o associado a uma comidinha de réstia que tiveras
jogado fora por não mais te servir, não pergunte porque é que eu não
investiguei por mim próprio porque a resposta seria: ‘’estou com preguiça e não
gosto de me stressar com dicionários talvez porque nenhum do meus participou na
sua invenção, isso me cansa, é coisa para espécies inteligentes’’.
Um belo dia estava eu com as minhas quatro patas
assentes ao chão, de tão vira lata e deambulante
que sou, nunca me falta alimento para satisfação, sou diferente dos outros de
minha espécie que mesmo que obedientes vivem presos por pura vontade de um
bípede racional que por pura recordação, as vezes oferece-lhes um par de ossos
na matina e no cair da tarde.
Numa dessas
minhas andanças com a ‘’amigada,’’ que tal como eu mora numa morada de quem não
mora ninguém, mora apenas eu e os sem morada, recebi uma visita rara de se
receber, era ela. Ela, a minha ex-namorada, que outrora parceira de tantas
orgias em tempos de fartura, onde o homem e nós não precisávamos disputar o
mesmo lixeiro, o lixo era apenas para lixos como nós, lixinhos alegres e passeantes dessa cidade. Ela cada vez mais
chegava próxima de mim e eu sem reacção não sabia o que falar-lhe, pois ainda
estava com a dor da ciência do fracasso da nossa relação, lembrava feridamente o como gostava de a cheirar
o rabo para depois acasalar por trás num rapidez excitante e imensurável, a
rapidez para nós nunca contou, o que valia era a acção e não o tempo de sua
perpétua.
É ofegante trazer a superfície o meu passado com
ela. Ela sim a minha menininha caninúdia.
Só para teres uma breve ideia, um dia estava eu esperando pela minha amada caninúdia, como sempre no período da tarde, período em que os
contentores de lixo orgânico se enchem de alegria e de satisfação gargalhando a
favor dos nossos estômagos vazios, ela sempre costumava chegar a essa hora,
vinda da escola do latido onde estudava com os aposentados de passeio. Na sua
volta ela sempre dá ‘’passadinha’’ em meus aposentos só para coisas rápidas, cenas tipo fornicação e tal. Mas esse
dia fiquei surpreso quando caninúdia
disse-me que desta vez o motivo não era esse.
Ela chegou, e eu, como um patinho a espera de ração
estava mais do que ansioso para tocá-la, e ela dura como pedra disse-me ‘’Ngwuaninho, (o nome que adoptei ao longo da minha jornada existencial) ‘‘, hoje
não vim para isso!
Logo a prior mais do que podereis pensar senhor leiólogo, me pus muito preocupado,
porque como ela mesmo já havia
referenciado a uns tempos atrás, eu não tenho dono, não sou cavalheiro e nem
gosto de trabalhar, então só poderia servir para cenas tipo fornicação e tal. Nisso eu era bom porque reservava as
minhas energias só para esse evento biológico. Fiquei preocupado, porque se
isso já não lhe era útil obviamente que ela queria acabar com todas as relações
afectivas entre nós, foi o que logo pensei!
Mas desta vez cherretei
mal, enganei-me, porque ao contrário disso ela queria mostrar-me que eu poderia
ter mais serventia num local, com uma nova realidade inventada pelo seu tio
para coisas que não sei lá o quê.
Era para rezar, aquela coisa de Homens, a igreja.
Para ela isso era melhor do que estar eu trancado
na vida mansa. Foi aí que ela retirou de um saco que arrastava desde não sei lá
quando, um livro que estava escrito Bíblia Sagrada, em letras douradas. De
seguida abriu o livro, numa certa página escrita, ‘’vós sois o filho de Deus e
o Senhor tem planos para sua vida’’, ela leu isso para mim, repitindo imensas
vezes palavras como: leia e aprenda, eu li, aprendi e me converti e estou
disposta a embarcar consigo a caminho da felicidade eterna, quero acordar ao
teu lado no paraíso.
Confesso que as declarações dela me assustaram,
afinal aquelas palavras não eram para nós, eram para os bípedes racionais, não
é? Mas até me interessei. Ela continuou a ler até que então parou, e disse: Ngwuaninho,
não poderemos mais fazer aquilo, porque segundo os mandamentos bíblicos, aquilo
só poderia ser feito depois do casamento e mesmo assim não faremos como temos
feito, pervertidamente, só faremos para fins de procriação entendes. Você
afinal não quer os 16 filhos que tanto fala, hein, não quer?
Admito que não gostei muito dessa parte, preferi
lhe fazer uma proposta, uma questão simples que ela teria de responder, e
disse-a o seguinte: você sabe que quem escreveu isso aí só te precisa para
afugentar os ladrões em sua casa? Se me fores a responder com precisão a
questão que lhe farei, eu juro que engreno contigo nessa nova vida do teu tio
que te deu esse monte de papel com capa dourada. Eis a questão que a fiz,
Minha linda caninúdia,
tu temes ou respeitas ao Deus do Homem?
Ela sem pensar duas vezes respondeu: eu temo a Deus
e ele não é só do homem pah.
E eu espantado disse: mor, isso quer dizer que você
só não fará as coisas más por temer o castigo de Deus?
Ela, firmemente disse sim!
Foi ai que eu a pressupus: então se por acaso
soubesses que Deus só é do homem ou
nem mesmo para ele existe, e se alguém
tivesse provas suficientemente convincentes da inexistência de Deus, você
claramente que voltaria a ser mundana e faria normalmente as cenas tipo fornicação e tal como sempre,
não é, ou seja, tu só praticas o bem por temer a ele e não porque pratica-lo é
bom é isso mesmo?
Bem, ela disse: sim, eu voltaria a ser mundana,
afinal do que vale viver sem esperança? Seria melhor mergulhar logo de uma vez
no mundanismo não achas, o meu tio que me perdoa?
Eu fiquei decepcionado com a resposta dela e
mandei-a embora e desde então ela tem me procurado para se justificar e dar
prosseguimento ao assunto mas eu tenho fugido a sete pés. Só para veres como não gosto quando ela me
visita, mas não nego que de vez em quando sinto vontade de pega-la e fazer cenas tipo fornicação e tal.
Assim eu fiquei desde então a pensar, como é que eu
posso me deixar persuadir por alguém que nem sabe o quê de facto é? E como é eu
posso abandonar os meus sólidos princípios deambulantes
para abraçar os de alguém que ainda estão em fase de gestação?
Nisso, estou a pensar até agora.
(J.Int)
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