A Poligamia
O tema proposto é detentor de uma
complexidade imensurável, visto que há uma dualidade nas respostas em relação
ao sim ou ao não a poligamia. Observando o contexto social moçambicano, de
ponto de vista cultural e tradicional, tornar-se sensível apresentar um
posicionamento nítido em relação ao assunto. No entanto, apesar da complexidade
do assunto, é, deveras, importante uma reflexão sobre a poligamia.
A
poligamia, segundo a Enciclopédia Encarta,
é uma acção matrimonial na qual é permitida a pluralidade
de esposos ou esposas. A classificação é feita a partir da género, sendo a poliandria entendida como a união em que uma só
mulher é ligada a dois ou mais maridos ao mesmo tempo, ao posso que a poligenia
é a acção em que um homem possui laços matrimoniais com duas ou mais esposas.
Ao
longo da história, a poligamia foi um fenómeno corrente. Segundo estudos
antropológicos e geográficos, as principais guerras mundiais que afectaram a
humanidade causaram uma diferença numérica entre homens e mulheres ao longo de
várias regiões do globo terrestre. Este
fenómeno, propiciou casos de poligamia. Na actualidade, mesmo em Estados em que
a poligamia é legalizada (como as países islâmicos e alguns africanos), a
prática está em eminente desuso, devido à pressão de várias organizações internacionais.
No
nosso país, o debate sobre a poligamia tem vinda a ganhar mais espaço nos
últimos tempos. Na nossa tradição,
principalmente na zona sul de Moçambique, a poligamia sempre foi vista como uma
acção que faz parte da nossa cultura. Em regiões mais recônditas do território
moçambicano, onde a influência de culturas estrangeiras ainda não se fez
sentir, são mais frequentes casos de poligenia, um homem com várias mulheres.
Este aspecto, faz com que o debate sobre equidade de género seja mais assente,
principalmente em organizações que defendem a igualdade entre o homem e a
mulher.
No contexto da cultura
moçambicana, a mulher é educada para ser submissa ao homem, daí que ela actua
passivamente em todas as decisões por ele tomadas.
O homem, de acordo com
os nossos valores culturais, assume o “poder”, a hegemonia no seio familiar e
da comunidade. Desde os tempos dos primeiros reinos africanos, o homem, pelo
poderio que lhe é culturalmente conferido, “usa” da mulher como sua
propriedade.
O homem, nalgumas
aldeias moçambicanas, chegou a possuir mais de vinte mulheres, protegido pelas
normas culturais das sociedades polígamas. Sochangane (1824-1895),
o primeiro rei de Gaza, reza a história,
chegou a ter mais de 600 mulheres subdivididas nas diferentes localidades do
seu império.
Nos novos tempos, a
poligamia tem vindo a ser questionada por uma nova realidade, a proliferação de
doenças sexualmente transmissíveis. Com efeito, o discurso sobre a necessidade
de se adoptar a monogamia é largamente defendido actualmente.
O HVI/Sida, que já
dizimou vidas em todo mundo, por exemplo, surge como um factor para desincentivar
a poligamia, na medida que o mesmo aumenta os índices de infecção.
Nos dias de hoje, a
poligamia é legalmente proibida, o que contribui directo ou indirectamente para
o para salvaguardar a auto-estima da mulher. Hoje, nas sociedades moçambicanas
metropolitanas, a mulher assume o papel de “líder” das próprias escolhas. Nas
zonas do interior, este fenómeno ainda não se faz sentir. Nos nossos dias,
gradualmente, a poligamia vai perdendo campo e a mulher começa a exigir sua posição
digna e única no meio da comunidade.
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