MAIS DE 300 INDIVÍDUOS DETIDOS EM
CONEXÃO COM CAÇA FURTIVA EM 2015
O Ministro moçambicano da Terra Ambiente
e Desenvolvimento Rural (MITADER), Celso Correia, anunciou hoje, em Maputo, que,
durante o ano passado, foram detidos mais de 300 cidadãos nacionais, mandantes
e subordinados, conectados à caça furtiva, um mal que tem dizimado milhares de
animais bravios, com destaque para os elefantes e rinocerontes.
A declaração surge no âmbito da comemoração
do dia internacional da fauna bravia, que hoje se assinala, numa altura em que,
só na família dos elefantes, mais de 50 por cento desta população animal foi
extinta nos últimos 20 anos em operações furtivas, restando actualmente apenas cerca
de 10 mil destes paquidermes em todo o território moçambicano.
‘’Os esforços para reverter o cenário
da caça furtiva tem sido assinalável, só em 2015, foram detidos também 20
traficantes de cornos e pontas de elefantes. Neste momento o governo está a
trabalhar para criar mecanismo com vista ao agravamento das penas aos caçadores
furtivos que são na verdade agressores ambientais’’, acrescentou Correia.
Segundo Correia, ainda no ano
passado, foram contabilizados 300 elefantes recém-nascidos no território nacional,
contra 380 abatidos no mesmo período, o que significa que, graças aos furtivos,
mais elefantes morrem do que nascem em Moçambique.
‘’Em 2014 perdemos mais de 500 elefantes
e só nasceram cerca de 250, o que significa que o gráfico de recuperação da população
dos elefantes é positivo e o objectivo é continuar a proteger estes animais,
como forma de ajudar a sua multiplicação’’, adicionou Correia.
O Ministro indicou ainda que
quanto aos rinocerontes não se pode avançar muito, pois estes animais, nas suas
duas espécies (Brancos e pretos), estão praticamente extintos no país, embora haja
tentativas de recuperar a sua existência através de alguns focos,
principalmente no parque nacional do Limpopo, onde alguns desses paquidermes
emigram da vizinha Africa do Sul para o lado de Moçambique.
Por ultimo o ministro indicou
ainda as Reservas de Tete e Niassa, como sendo as mais vulneráveis, quando o
assunto é caça furtiva, pois, ainda registam-se grandes fragilidades no que
tange à fiscalização e o conflito Homem-fauna bravia é ainda crítico.
Ainda sobre os elefantes, o biólogo
Carlos Bento, que falava numa entrevista, mostrou a sua descrença em relação aos
dados apresentados por Correira, afirmando que a população de elefantes em Moçambique
não passa de cinco mil e o fenómeno da caça furtiva está ainda longe do
desejado.
‘’Há cinco anos tínhamos cerca de
20 mil elefantes e agora temos quase cinco mil e se calhar, hoje estamos a
quatro mil e poucos, porque os furtivos estão com gana de enriquecimento fácil,
prejudicando assim toda uma economia’’, disse o biólogo.
Bento acrescenta ainda que em Moçambique,
dados estatísticos indicam que por dia são abatidos em média oito elefantes, o
que é torna o cenário ainda mais alarmante aos olhos dos defensores do ambiente
e da sociedade no geral.
Para o biólogo, não se pode
apenas falar de elefantes e rinocerontes, pois, desta forma se está a
negligenciar os outros animais que fazem também parte da fauna selvagem, e são também
alvo de perseguição dos furtivos.
‘’Há um outro grupo que é pouco
falado, mas que também é vulnerável, é o grupo dos carnívoros, pouco falado
porque em Moçambique estão em pouco número. São animais que também são perseguidos
pelos furtivos por terem materiais considerados valiosos, tal como é o caso da
pele que os furtivos conseguem colocar no mercado ilegal para o comércio’’,
disse o Biólogo.
O director geral da Administração
Nacional das Áreas de Conservação (ANAC) é também da opinião que o abate de animais
pelos caçadores furtivos, com destaque para os elefantes e rinocerontes, é
ainda bastante forte, a accão dos caçadores tem estado a retroceder os esforços
levados a cabo pelo governo e parceiros para a erradicação deste mal.
‘’No nosso país a incursão dos
furtivos é muito forte, temos estado a envidar esforços com outros governos, com destaque para o sul-africano,
porque este crime é de caracter transfronteiriço. Do lado do governo temos
notado um interesse em ajudar, e como prova criou-se a polícia de fiscalização,
que tem sido útil no processo de fiscalização das áreas de conservação, estamos
satisfeitos em notar que há evolução no combate’’, explicou o director.
Contudo, Moçambique é ainda
considerado um dos países com boa visibilidade em termos de áreas de conservação,
pois, cerca de 25 por cento do seu território é reservado às áreas de proteção da
vida selvagem, ou seja, à fauna bravia.
As cerimónias de comemoração do
dia internacional da caça furtiva contaram com a presença do ministro da educação
e desenvolvimento humano, Jorge Ferrão, membros do MITADER, polícia de fiscalização
e ANAC.
Jeremias Chemane (JC)